O amor é sujo, porque o amor é lindo.

Dias desses li uma frase que me deixou incomodada. Era sobre o amor e a intimidade não combinarem com erotismo. Algo como se o mistério fosse essencial para que houvesse o tesão. E fiquei intrigada tentando relembrar transas casuais – relação na qual o mistério predomina -, mentalizando assim qual foi o nível de satisfação sexual entre elas. Tudo o que veio em minha mente foi um emaranhado de posições mal encaixadas, aquele sutil desconforto de deixar o outro ver a luz do quarto penetrar tua pele nua e seu corpo em posições quem menos te favorecem, o efeito do álcool passando e a inibição voltando e fazendo com que você e cara ao teu lado fossem apenas dois estranhos dividindo, de maneira incômoda, o quarto.




Não me entenda mal, sou super a favor do sexo casual. Dou pra quem eu quero, a hora que quero e quando eu quero, mas acho que quando se busca qualidade a intimidade é um ponto a favor. Sabe aquele lance de que a prática leva a perfeição? Então, por aí. E não me venha tentar imacular o amor me falando de como esse sentimento é puro não deixando espaço para a libertinagem. Essa é apenas uma de suas facetas. É que o amor também sabe ser sujo. E para ter sujeira é preciso existir cumplicidade.

Só com muita intimidade a gente se sente confortável para revelar nossas vontades mais toscas, nossas taras mais bizarras sem medo de ser feliz ou de ser taxado como pervertido. Somente quando confiamos em alguém nos atrevemos a partilhar coisas das quais normalmente nos envergonharíamos. Não dizia Nelson Rodrigues que “se cada um soubesse o que o outro faz dentro de quatro paredes, ninguém se cumprimentava”? Então, ele estava certo. É na quietude dos lençóis branquinhos com arabescos na fronha em uma cama de casal que mora o perigo. Você pode descer até todos os inferninhos mais mequetrefes da Augusta. Pode pegar a puta mais barata e transar com ela em um banheiro onde cheiram cocaína. Mas isso não chega nem perto da putaria que ocorre no lençol cheirando a amaciante de uma cama de casal.




O amor é muito mais imundo que qualquer depravação. É aquela vontade de morder sua axila, de cheirar sua nuca, rasgar seu ombro. Não existe putaria maior que saborear sem nojo toda a pessoa por inteira, sem frescuras ou restrições. Amor é nos sentirmos confortáveis com nossos desejos mais íntimos quando encontramos alguém com quem fazer um pacto secreto de conivência diante das bizarrices do outro. Algo como: o que acontece em Vegas, fica em Vegas. É admitir nossa fragilidade e permitir que o outro faça contigo algo que jamais nos submeteríamos com um estranho. É o laço de lealdade se aprofundando a cada aumento de devassidão.

O amor é sujo. Porque o amor é lindo. O amor é feio. Tem cheiro de mijo. Te leva ao céu. Te tira o chão. Te rouba a consciência. Te surra. Te esmurra. Te fode de um jeito “te bato porque te amo”. O amor é sujo. E eu e você somos cúmplices dessa sujeira. Tipo Bonnie e Clyde. A gente se ama, se entrega. A gente inventa e aperfeiçoa o nosso sexo. A gente não apenas troca fluídos corporais. A gente fode com a alma. A nossa sintonia me faz achar as pintinhas do seu ombro a coisa mais tesuda do mundo e você quase goza só olhando a curva das minhas costas. 

Quer putaria mais absurda que essa?

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2 comentários:

  1. adorei o post
    fala mais sobre androginia Leeh sou seu fã e fã do blog

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    1. Muito obrigado, que bom que gostou! Falo em breve sobre o assunto. beijos.

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