Um pouco sobre o livro Filha, Mãe, Avó e Puta.




Filha de família tradicional e de pais moralistas, aos 22 anos, enquanto estudava sociologia e filosofia na USP (foi a segunda colocada no vestibular), Gabriela Leite decidiu virar prostituta. Abandonou a faculdade em 1973 e trabalhou na Boca do Lixo, em São Paulo, na Zona Bohemia de Belo Horizonte e na Vila Mimosa, no Rio de Janeiro. Em 1979, Gabriela participou da primeira Revolta das Prostitutas, e conseguiu afastar um delegado que torturava e matava profissionais do sexo. No final dos anos 80, publicou o primeiro manual de prevenção às DST's voltado para as prostitutas. Fundou a ONG Davida, que defende os direitos das prostitutas. 

Uma vez assisti a uma entrevista de Gabriela e vi o quanto inteligente ela era, pelas boas respostas e suas reflexões, e no livro tem ótimos pensamentos como este:

"Adoro os homens. Gosto de estar com eles, e não conheço homem feio. Todos são bonitos: cada um com seu cheiro característico, seu andar, seu modo de olhar. Alimentam um amor imenso pela mãe e pelo próprio corpo. Magros ou gordos, todos têm um belo corpo, mesmo quando são barrigudinhos. Às vezes me pergunto como eles fazem para andar: será que o pau no meio das pernas não atrapalha? Essa pergunta eu (ainda) não tive coragem de fazer.

Outra coisa que adoro é falar o que penso. Sem papas na língua. 

Quem ler este livro vai perceber isso. Aprendi uma porção de coisas nessa temporada na Terra. Uma delas é a importância de se ter uma opinião, de reclamar quando não se está gostando de algo. Demorei muito para adquirir esse direito e, por isso mesmo, não abro mão dele. Passei um pedaço da minha vida lutando por ele. Estou gastando um outro bom naco tentando convencer minhas colegas prostitutas de que esse direito também é delas.

Existe uma terceira coisa que eu prezo muito. Talvez seja a que mais prezo, aliás. É a liberdade. Liberdade de pensar diferente, de vestir diferente, de se comportar diferente... Não sei direito de onde veio essa minha paixão pela liberdade (minha vida é feita de muitas certezas, mas também de infinitas dúvidas e contradições), mas ela veio para ficar.

Meu destino até aqui foi norteado por esses três amores. E, como todos nós sabemos, o amor não traz só felicidade. Ele gera muita dor também, em nós mesmos e em quem está perto. sei que, por causa dessa minha obsessão por romper amarras (sejam elas políticas, culturais, morais ou pedagógicas), feri algumas pessoas queridas. Mas acredito que também ajudei um sem-número de prostitutas a ter uma vida mais digna. Fui, sou e vou continuar sendo responsável pelos meus atos. O que pensar sobre eles é resultado do conceito de vida de cada um. Enquanto eu puder continuar exercendo minha liberdade, não tenho com o que me preocupar." 



Gabriela fez do próprio ato da prostituição um exercício de liberdade - tanto física quanto intelectual. E rejeitou o processo de vitimização que setores "bem-intencionados" da sociedade impingem às prostitutas. O livro é muito bem escrito, com uma linguagem muito fácil de entender, não é um livro que fala apenas de sexo e prostituição vai além disso, com uma certa elegância. Gabriela era uma mulher inteligente e batalhadora, contou o que acontece muito além de um quarto em que vive uma puta, de uma forma fácil e nada vulgar. Tudo muito livre, que faz nos refletir sobre nossas escolhas, nós escolhemos aonde estamos e onde pretendemos chegar. Independente da visão que tenha sobre prostituição, abra sua mente, puta também é gente! Recomendo o livro com certeza, porem abra a sua mente para entender a história tudo o que acontece, reveja seus conceitos e se torne uma pessoa mais livre todos os dias.




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